segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

E as outras batatas

Sumi…
Pois eu explico. Tive um janeiro extremamente conturbado, com aniversário (EBAAA), correrias, decepções e mudança de planos. A conclusão é que, devido a vários motivos, alguns que não quero expor aqui, tive que replanejar minha volta pra muito antes do que eu esperava.
Nesse quase um mês que me faltava tive que enfiar muitas coisas, e infelizmente não tive cabeça pra escrever. Entre as milhões de coisas oficiais que tive que fazer por aqui, ver amigos queridos e aproveitar um pouquinho, meus últimos dias aqui seriam basicamente para aproveitar um pouco mais da Alemanha e Europa. Fui pra Berlin, Bremen, Dublin e, daqui a dois dias, para Florença. Vou escrever sobre todas essas últimas experiências, mas antes PRECISO falar de uma das maiores surpresas que já tive na vida.

Dublin.



Confesso que meu primeiro destino não era a Irlanda. Sempre achei a cultura e a história interessantes, apesar de não saber muito, mas na minha listinha de lugares a visitar ela não estava no topo. Até que a Ryanair me surge com passagem ida e volta por uma merreca.
Well, vamos lá então!

Posso dizer que a minha falta de expectativas fez da minha viagem mil vezes melhor. E Dublin (e a Irlanda) me conquistou, surpreendeu, e mudou muitas coisas em mim.

Sim, mudou mesmo, não me encham.

Nesses cinco dias de Dublin fiz grandes amizades (uma das grandes vantagens de se viajar sozinha), quase morri caminhando (cerca de 16km por dia), fiquei encantada pelo jeito (e sotaque) dos irlandeses, essa gente tri e cheia de garra, que passou por milhões de perrengues e segue no bom humor. Adoro.

St. Patrick's Cathedral



it was a good fight anyhow...

irish writers

Temple Bar

cliffs cliffs cliffs









creepy


Brasil e USA :D


Cheesecake de Bailey's




Dublin writers museum

Sinistra na Biblioteca da Trinity College


The church, restaurante e bar localizado dentro de uma antiga igreja






Nos meus dias dublinense ouvi muito português falado na rua.

  • Eu vejo brasileiros
  • Com que frequência?
  • O tempo todo!
Nos meus dias dublinenses ouvi muita música na rua, comi muita carne, tomei uma quantidade um pouco reprovável de Guinness, me apaixonei pelo Mocha da Butler’s, me apaixonei pelo white hot chocolate dum lugarzinho lá que não me lembro o nome, aprendi muito sobre as pessoas que fizeram da Irlanda o que é, sobre a história de luta e sobre a cultura celta e católica, tão presentes por lá. Amei demais, senti como se estivesse com “the luck of the irish” comigo o tempo todo.

Sorte essa que me fez ter um dia muito surreal.
No meu último dia, resolvi passear e procurar alguns pontos turísticos literários da cidade. Na minha busca por um café importante onde o James Joyce encontrou sua mulher pela primeira vez, olhei pro lado, pra janela de um café por onde estava passando, e na placa dizia “Café onde James Joyce conheceu sua esposa”.

QUÊ?

Sim. Entrei, me sentei perto da janela, e pedi um café. Enquanto sentada, fiquei pensando no meu próximo passo. Pensei que visitar a National Gallery da Irlanda seria uma boa ideia. Olhei pela janela. Qual era o prédio que eu via do outro lado da rua?

A National Gallery.

Resolvi ir, ao entrar me deparei com a exposição Lines of Vision, que tratava de escritores irlandeses da atualidade e suas obras preferidas da coleção da galeria. Na exposição, ao lado das obras se podia ler um pouco sobre a pessoa que tinha escolhido a obra. Juntamente com a exposição aconteciam alguns eventos com os próprios autores. Saraus, palestras, discussões. Resolvi olhar o panfleto, e não é que tinha uma Poetry Reading acontecendo em menos de meia hora. Resolvi entrar bem feliz, e não é que a própria poeta iria ler seus poemas? Achei o máximo. Quando ela se parou lá na frente e leu seus poemas, explicando um pouco suas motivações para escrever cada um, e lendo um poema feito para a mãe dela, com a mãe sentada do meu lado, tudo isso foi muito emocionante pra mim. Chorei, né. Nunca vou esquecer desse momento. No meu mundinho tosco foi extremamente importante, ok?

Falando em momentos importantes, em um dos dias fiz um tour para a costa oeste da Irlanda, com o ponto alto sendo os famosos Cliffs of Moher. Tivemos o guia mais legal do universo sideral, um senhor irlandês querido que me deu uns Rocky Roads, abraçou um moço que disse que o ar condicionado não estava quente o bastante, e que cantava uma música sobre cada cidade por onde passamos. Além das famosas histórias com MUITA licença poética. Meu guia era um irlandês, um verdadeiro storyteller.

Ao chegar nos cliffs tive uma sensação meio esquisita. Ver aquela imensidão e imaginar tudo o que teria acontecido ali, morar em algumas das ilhas que se via da costa, morar na costa, imaginar como deve ser diferente a vida ali. Ao mesmo tempo, me dei conta de como somos insignificantes. E cheguei a uma daquelas conclusões impactantes que temos na vida às vezes, pelo menos quem gosta de viajar as tem. Ao ver aquilo, ao estar à beira dos cliffs, tive aquela realização de que o dinheiro, as coisas materiais, nada interessa, dinheiro não é nada se me pode trazer até aqui. Quero dizer, se eu puder torrar todo o meu dinheiro para poder ter a oportunidade de chegar nesses lugares, isso é, para mim, o único bom motivo para se torrar dinheiro. Isso, e livros, óbvio.

Enfim. Estou cansada e minha escrita está repetitiva, mas achei que a Irlanda merecia um post antes de tudo.

Beijos,
Lúcia

e as batatas irlandesas.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Aquela Londres, velha amiga

Agora, depois de ter voltado e colocado tudo no seu devido lugar posso me sentar e colocar no papel as sensações dessa viagem que foi extremamente terapêutica e inspiradora.

2008 e 2015

Fui pra Londres pela primeira vez aos 17 anos, em 2008. Foi a minha primeira vez aos 17 anos, em 2008. Foi a minha primeira viagem internacional, com minha melhor amiga. Toda a minha infância foi povoada por aquela cultura, e ver as coisas ao vivo mudou muita coisa em mim. Como em qualquer viagem, mas essa veio em um momento crucial. Antes do meu último ano de colégio, antes de ter que decidir o que fazer da vida (o que, vamos ser sinceros, ainda não aconteceu). Essa época meio turbulenta e cheia de crises existenciais. E Londres me fez escolher o inglês como a língua que eu ia estudar, e a cultura que (não) escolhi gostar. Voltar para Londres alguns meses depois da minha formatura teve muito significado. Seis anos se passaram. O que mudou? Quem é a Lúcia de 6 anos atrás? Quem é a Lúcia de agora? Quem é a Londres de 6 anos atrás? Quem é a Londres de agora?
Voltei com muitas diferenças e semelhanças. Fui com outra melhor amiga. Não tinha aulas, ou responsabilidades. Não tinha a necessidade de ver alguma atração turística. Vivi um pouco ali também. Não foi necessariamente uma vida melhor da de 2008, nem pior, só diferente. Vi musicais que me marcaram muito, vivi um pouco da vida prazerosa que no dia a dia a gente esquece de ter. Acho que isso se chama férias, né? Mas para mim foi mais forte que isso. Depois de um natal legal, diferente, mas com algumas decepções, depois de uma série de rejeições e a certeza de que eu voltaria e teria que entrar de novo nessa situação de mandar mil emails sem nenhuma resposta positiva e não saber o que vai ser de mim no mês que vem, eu precisava de Londres. Eu precisava daquela velha amiga.

Eu e a Lari e a Tower Bridge, o passado das selfies!

Eu precisava de cafés preguiçosos, das caminhadas no parque, das fotos, das compras, das comidas decentes (e indecentes), de dormir um pouco mais sem a culpa de ser obrigado a “aproveitar” que nos é imposta. De fugir pras livrarias, onde somos compreendidos (e onde podemos sentar), ver musicais legais e lembrar porque eu gosto tanto de música, teatro, cultura em geral, em cada esquina, e valorizar tudo o que eu aprendi e vivenciei.
Poder passar o ano novo em uma casa em Surrey com os pais do namorado da minha melhor amiga, que me fizeram uma casa na casa deles sem nem precisar, só talvez como agradecimento por ser amiga de quem sou, ou por serem simplesmente pessoas especiais, que me deram um pouquinho de felicidade e fizeram do meu ano novo um momento de reafirmação dos meus sonhos e das minhas vontades.
Poder ir e saber que Londres tá logo ali, cheia de pessoas legais e de braços abertos pra quando eu precisar, é minha terapia. Como uma velha amiga que não vemos quase nunca, mas que ao encontrá-la é como se o tempo não tivesse voado, como se fosse ontem.
Só que foi há 6 anos atrás.

Eu e a chummy Deborah



domingo, 28 de dezembro de 2014

Lübeck - a aquabundância das cidades hanseáticas

Lübeck, o que dizer dessa cidadezinha que eu conheci na chuva mas já considero pacas?


Como toda e qualquer cidade alemã, o que se ouve sempre é:

- Mas tu tem que vir no verão!

Tô começando a ficar desconfiada, talvez eu tenha que começar a pensar na ideia de vir pra Europa no verão também.





Marquei com o Juli (sim, eu e meu ex somos amigos, choque, incredulidade, retorno da crença na humanidade, se acalmem, deu.) de ir na segunda pré-natal (isso soou estranho) pra Lübeck, que é uma cidade que comigo tem história. Tentei ir com alguns amigos no início da minha estada aqui, mas era um dia em que estavam bloqueando os trilhos como protesto. Fiquei com aquilo na cabeça, pensei que ''agora PRECISO ir pra essa cidade, questão de honra". Isso também porque eu gosto dos Buddenbrooks, um livro cuja história se passa na cidade, por ninguém menos do que um tio chamado Thomas Mann, também um "lübeckense".

creeping nos Buddenbrooks

Tá, até aí tudo bem. O tempo em Hamburgo tava "Ó" uma bosta. Pensamos que em Lübeck estaria melhorzinho.

Ledo engano.

O problema é que a cidade fica numa ilha dentro duma ilha. Esses hanseáticos curtem dificultar as coisas.

Não minto, de 500 metros caminhando na chuva da estação central até o café mais próximo molhei até o fundo da minha alma. Com isso quero dizer que molhei a minha bunda.



Passeamos muito elegantemente (não), nos escondemos no café de Marzipans (SIM), nos perdemos tentando encontrar a tal da casa dos Buddenbrooks que fica NO CENTRO DA CIDADE QUE É MINÚSCULA e bebemos muito Glühwein (ou quentão de dezembro) pra afogar as mágoas e tentar esquecer dos pés molhados. A arquitetura da cidade é muito interessante, se desse pra olhar pra frente sem levar gotas no olho. Deve ser muito bonita no verão.

AI QUE VENTO TRI!


A previsão do tempo dizia que em Lübeck teria um "SCHAUER" (vide dicionário numtôafimdeexplicar)

MAS QUE PUTA SCHAUER, viu!

Mesmo com vento e chuva na cara e guarda-chuva entortando numa cena de filme de comédia, a cidade é lindinha demais mesmo. Com ou sem chuva.
Na verdade eu não sei se ela é bonitinha sem chuva, mas promete.

Deve ser lindinha demais no verão.


luz inconveniente 

legal comer cabelo 

Lúcia (comi salsicha selvagem, serve?)


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Um tal de bab.labla, ou “o que tu tá fazendo afinal?”




Então. Eu vim pra Alemanha meio doida no susto atirando no escuro sem nenhuma certeza do que eu faria da vida. Vocês imaginem que pra uma pessoa que teve crises horríveis de ansiedade, ansiedade essa que ameaça voltar de vez em quando, uma perspectiva dessas parece não ser a melhor ideia, não é? Pois é.


Mas eu vim mesmo assim.
Pra falar a verdade, não posso dizer que foi difícil pra mim. Tenho muita sorte. Diria eu que ‘’mais sorte que juízo’’, mas eu também tenho muito juízo, então não encham.


Eu tenho família aqui, e não é uma família qualquer, além disso, tenho a cidadania alemã,  que facilita 90% das coisas.


Mas nos últimos meses mandei uma infinidade ridícula de emails com currículos e com a tão amada ANSCHREIBEN que esses alemães adoram adorar. No fim, com as malas e nos 45 minutos do segundo tempo, recebo um email da querida da Asia, do bab.la, que me perguntou se eu estaria disposta a me relocar para Hamburgo.


DISPOSTA? EU TAVA DE PASSAGEM COMPRADA E MALA FEITA.
Mas beleza. Desde que eu aceitei a oferta, sabia que não teria chance de ser efetivada, pois tem uma nova estagiária chegando em fevereiro.


Acho que isso ajuda na pressão que eu sentiria. Sei que só vou ficar mais um mês, por isso algumas das preocupações que sempre cercam um emprego assim ficam em segundo plano, e a prioridade é mostrar serviço no pouco tempo que temos. E me divertir também, é claro.


Acho que poucas pessoas, inclusive na minha faculdade, onde todo mundo era tradutor ou de alguma forma conectado com o mundo das línguas, poucas pessoas sabem tudo o que se passa nos bastidores dos serviços de dicionários online. Eu mesma nem sempre compreendo inteiramente como uma empresa que oferece dicionários em 27 idiomas (além de n outras coisas) consegue sobreviver mantendo um trabalho de qualidade e gratuito. Daí eu lembro dos meus colegas e entendo o porquê.


Eu, como estagiária de Português e Online Marketing, sou responsável por tudo o que é relacionado com a lingua portuguesa, incluindo traduzir o site, adicionar MUITAS palavras novas por semana aos dicionários, corrigir sugestões de usuários, responder emails de usuários, enviar email pedindo pra sites colocarem o link do dicionário bab.la em seus sites (FICADICA, GENTE, MEAJUDEM) além de analisar as estatísticas do mercado em português no Google Analytics, criar quizzes e escrever textos pro blog Lexiophiles.


UFA.


Não falei nem a metade!


É a primeira vez que eu trabalho nesse regime periodo integral. É legal descer na estação central e ir caminhando pela rua mais movimentada daqui em direção ao escritório, que fica no coração de Hamburgo, do lado da igreja da Cientologia (não nos julguem), chegar todos os dias, ser cumprimentada por vários ‘’Good Morning’’ e ouvir a colega italiana rindo do meu lado, ou os chefes franceses falando entre si em francês ou com os outros em alemão.


Dá um nó no cérebro. Mas é muito legal saber que num espaço de 3 cômodos temos, pelo menos, 12 países diferentes. Valoriza também o fato de que eu sou brasileira. Isso eu sinto no geral, mas é legal também ser valorizada pela língua e cultura que são tuas no teu local de trabalho (e eu escrevi isso com ‘tu’ porque é muito legal né, vamos combinar).


Todas as quintas temos um almoço oferecido pela empresa, que pode ser feito por algum colega ou comprado em algum restaurante próximo. No pouco tempo em que estou aqui já comi comida do chipre e da índia. Quer dizer, difícil não tá.


Além disso, temos frutas, café, água, leite, tudo de graça e disponível.
Vocês me desculpem, mas eu fico feliz com essas regalias.


O que fazemos aqui poderia ser visto como trabalho de escritório típico, só que tem um desgaste intelectual muito grande, além da responsabilidade que recai sobre cada um dos estagiários, já que somos RESPONSÁVEIS por nossas línguas (com muita supervisão e controle de qualidade, claro).


Além disso, estou com um baita de um orgulho do Brasil, que é o pais da zoeira, mas também é um dos mercados mais importantes do bab.la, onde muita gente procura muitas palavras constantemente no dicionário. Vocês podem interpretar como quiserem, eu interpreto que é porque o brasileiro gosta de tentar entender as coisas, tendo ou não os materiais e a infra-estrutura para tal.


Enfim, já estou tendo que procurar algo para fevereiro, e não sei se quero continuar nessa área das línguas. Para vocês terem uma ideia, as partes mais legais são escrever os artigos pro blog e aprender coisas novas de SEO e Marketing, então não sei direito onde essas coisas vão me levar. Mas a experiência conta demais. Vou sempre pensar muito antes de buscar palavras em algum dicionário online, vou sempre pensar na pessoa que está por trás.


Por sinal, cada vez que vocês procuram alguma coisa nos dicionários de português e não acham, tudo isso vai pra uma lista que eu tenho que revisar e traduzir. Então, por obséquio, não me bombardeiem com palavras toscas porfavorobrigada.


E se vocês ficarem digitando coisas obscenas ou frases inteiras, estaremos sempre de olho (insira risada maléfica) e a Benedetta vai provavelmente dar uma gaitada do meu lado, rindo dos pobres mortais que povoam o reino da internet.


Brincadeira.




Lúcia

domingo, 14 de dezembro de 2014

Oma maa mansikka, ou "as aves que aqui gorjeiam..."

Um dos meus livros favoritos se chama “Nova Gramática Finlandesa” escrito pelo tradutor italiano Diego Marani. O livro não é uma gramática do finlandês, como o nome poderia sugerir, mas um romance extremamente poético sobre a identidade lingüística. Como era de se esperar, o livro traz várias reflexões sobre línguas e culturas. 
Uma das primeiras coisas sobre o finlandês que aprendemos ao ler é a expressão “Oma maa mansikka; muu maa mustikka” que, traduzida ao pé da letra, significaria “Outra terra mirtilo, nossa terra morango”, quer dizer, segundo a lógica dos finlandeses, as outras terras podem ser legais, mas não se compara ao nosso lar, à nossa terra.

Aí me peguei pensando...
“Eu gosto muito mais de mirtilos, como isso funcionaria pra mim então?”

Talvez pros finlandeses o mirtilo seja lugar-comum. Talvez o morango seja mais valorizado, extremamente especial.

Não sei.

Mas isso tudo depende de gosto.

Então por que escolher frutas tão gostosas para se fazer uma comparação baseada em gosto e que pretende estabelecer uma verdade meio universal?

Eu prefiro mirtilo. Isso quer dizer que eu prefiro outras terras à minha terra natal? Isso quer dizer que eu prefiro estar longe de casa?

E se o mirtilo significa ter várias casas, como fica então?

E outra pergunta: E se a gente gosta dos dois em igual medida? Como fazemos então?

Eu acho que eu gosto de mirtilos e morangos.

Como eu faço então?

Aos finlandeses, peço desculpa pela dissecação de seu ditado popular, mas vocês tem que consertar isso aí.
Tô confusa.

Não sei se gosto de casa ou da rua.
Não sei se não tenho várias casas e várias ruas.

Descubram aí.

Atenciosamente,

Lúcia (só não gosto mesmo é de groselha)

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Esse puta Ostwind

Esse é um texto de chorumelas meteorológicas.
Me agüentem!



Todos sabem que eu amo o inverno, ou pelo menos que não sou das mais amantes do verão. Pra falar a verdade, o outono é minha estação preferida, desde os tons até a temperatura. Mas o inverno sempre teve seu charme pra mim. Amo demais chás e bolos, o que combina muito mais com o friozinho do que com o calor senegalês de Porto Alegre. Amo sobretudos, roupas de inverno, blusões, amo ficar em casa debaixo das cobertas lendo e tomando um chá.

Mas esse não é um texto sobre o inverno.

Esse é um texto sobre um putadumventogeladodaporra chamado Ostwind.

Perdoem-me os de coração fraco, mas um vento desses merece ser adjetivado com palavrões.

Vocês podem me dizer “quer o quê? Se mudou pra Alemanha justamente no inverno!” ou “quer calor, volta pro Brasil”, etc.
Mas não é o frio que me incomoda.
É ESSE PUTA VENTO TRAIÇOEIRO.

Eu explico.
Saindo na rua, saindo DIRETO de um lugar aquecido com aquecimento central, confiro meu vestuário.
Meia-calça. Calça. Blusa. Blusão. Casaco de respeito. Cachecol de respeito. Luvas de pelica e de respeito. Até uma touca de respeito.
Fecho todos os botões e possíveis frestas.
Tudo certo.

Mas não. Numa cidade portuária cheia de canais e rio/mar/whatever o vento sempre faz uma curvinha.
É tipo o Minuano, mas ele não geme. Quem geme, de frio, são as pessoas.

O pior é parar numa esquina, esperando a sinaleira me deixar passar. Porque aqui eu espero. O ficar parada numa esquina é a morte da vida interior feliz e quente que eu outrora tivera.

cês vejam bem, até usei o mais-que-perfeito pra esse vento poético.

Esse vento filho da puta!

Eu gosto do friozinho batendo no rosto, de caminhar sem poder girar a cabeça nem 60 graus, do constante tirar e botar de luvas. Eu juro que eu gosto.

Mas esse vento embatuma meu bolinho.

O bom é que aqui, por esse ar marítimo, as riníticas conseguem respirar melhor.
É tipo uma nebulização, só que gelada.



Chego em casa e comento alguma coisa com o pessoal daqui.
Me dizem:
“Ah, o Ostwind”

Esse puta Oswind.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Tá na hora de ser adultinha!

Pois então, o título diz tudo.

Eu sempre tive, em várias situações, visões completamente opostas de mim mesma.
Acho que isso vem de ter sido criada em dois mundos. Duas famílias e situações diferentes, ao mesmo tempo.

Oi, narcisismo!


Para minhas primas, naqueles terríveis anos da adolescência, eu era a única que morava na capital. Filha única. Eu era, consequentemente, mimada e patricinha. Eu acho que nessa parte da minha vida eu aceitei esse papel pra mim. A gente aceita papéis, inclusive os que impomos sobre nós mesmos.
No outro lado, na cidade grande, no colégio, eu não era nem de longe mimadinha ou patricinha. Acho que é a comparação. Eu era a guria meio grande, que às vezes falava alguma piada, tinha mil coisas extra classe, tocava uns instrumentos aí, lia umas coisas, saía pra acampar ou que achava normal fazer xixi no mato.

Tá certo, eu era mais do que isso, eu acho. Mas vocês entendem onde eu quero chegar?
Eu estou sempre preocupada em QUAL das caixinhas tipificadoras eu seria colocada. Mesmo que a realidade não fosse bem assim.

Eu nunca soube o que eu sou ou o que eu quero ser. Quando eu me maquio, me arrumo, penso, ao mesmo tempo, que as outras pessoas me acham uma farsa, uma desengonçada troglodita que quer se fazer feminina e arrumadinha, tentando cumprir um papel, ou, no extremo oposto, que eu sou uma pessoa extremamente fútil, só preocupada com a aparência. Essas duas Lúcias me perseguem minha vida inteira.

Eu sou prática e ao mesmo tempo romântica. Troglodita e ao mesmo tempo extremamente sensível. Fui acusada de ambos. Eu sou tranqüila e ao mesmo tempo sofro de ataques de ansiedade. Eu não dou tanta importância pra alguns detalhes da minha aparência, não faço escândalo com um cabelo fora do lugar ou uma unha quebrada, mas adoro maquiagem e comprar roupas novas.
Eu acho que eu sou normal, no fim, mas essa patrulha do não poder ser conflitante, do 8 ou 80, me aflige. E ser adulto te coloca, de certa forma, cada vez mais nessas caixinhas.

Só que se tornar adulto num país diferente, numa língua diferente, numa tela em branco, é diferente.
Na família dos Collischonns inteligentes, criativos e práticos eu sempre fui ativa na parte artística, mas sempre fui a que “não gosta de trabalhar”, “a que tira o corpo mole na hora de lavar a louça”.
Tá certo, eu odeio lavar a louça, e acredito no ócio criativo pós-prandial. Mas isso não vem ao caso.

Quando eu disse que ia pra Alemanha, ouvi muitos “não sabe cuidar de si mesmo no Brasil, como vai fazer em outro país?”. Pensando na Lúcia mimada, folgada e preguiçosa, óbvio.

Mas não sei de onde surgiu essa do “não sabe se virar”.

Todos sabem que, para ter que se virar, é necessário primeiro estar em uma situação em que isso seja necessário. Eu não estive nessa situação muitas vezes, pois tenho sorte, e quando estive, ADIVINHEM, me virei.

Eu funciono na pressão, escrevo trabalho na noite anterior. Mas eu me viro. Eu sempre dou um jeito.
Acho que o segredo  é não se fingir adulto. E isso eu sei bem. Eu sei perguntar, sem medo de parecer idiota, e estou fazendo muito isso aqui, em outra língua e cultura.
A alegria de lavar minha própria roupa, por exemplo, e a vergonha de admitir pra minha “mãe” aqui que eu, na verdade, nunca fiz.

Sim. Me julguem. Eu nunca tinha lavado uma roupa na máquina.

Mas eu aprendi, quando precisei. Eu aprendo e, no fim, me viro.

Não tem muito segredo.

O bom dessa tela em branco é que ninguém me vê como mimadinha patricinha adultinha ou troglodita. Eu posso ser quem eu quiser.

O ruim disso é eu eles só podem me ver como isso que eu sou agora, não como a pessoa que eu fui ou o que eu já fiz e conquistei.

Mas acho que novos começos são assim mesmo.
Viajar não resolve nossos problemas, carregamos eles conosco, mas viajar nos dá a oportunidade de um novo começo, talvez me dê a oportunidade de escrever uma nova Lúcia, um pouco mais adultinha, menos patricinha ou bichinho do mato.

Na verdade, me deixem ser o que eu quiser ser, com diminutivos ou não.


E isso eu digo pra mim mesma, já que sou a minha maior censora de identidades.